No intrincado espaço entre a filosofia e a arte, reside a busca incessante do ser por si mesmo, uma jornada marcada pela tentativa de se apropriar de sua própria existência. Esse processo de pertinescere – de pertencer a si – é a essência de um ser que busca compreender e tomar parte em sua totalidade. É como um artista que, ao realizar, toma parte em sua criação, revelando-se em cada toque, em cada expressão.
Pertencer a si mesmo não é apenas uma questão de introspecção, mas também de referência e relação com o mundo exterior. É a interconexão entre o eu e os acontecimentos ao redor, como se o ser fosse uma obra em constante diálogo com a realidade. Essa relação transitiva, essa troca contínua, deve ser merecida – não no sentido de uma recompensa, mas como o reconhecimento de que a verdadeira pertença vem da fusão do interno com o externo. Assim, o ser não apenas existe, mas vivencia, compondo um status de vida em que a imaginação e a consciência se tornam ferramentas de criação e interpretação.
A scriptura, o ato de escrever, emerge aqui como um espelho da própria obra. Escrever é mais do que simplesmente traçar caracteres no suporte; é um processo que envolve técnica e método, mas também expressão. Ao compor, não apenas narra ou descreve, mas também traça as linhas de sua própria existência, manifestando suas reflexões. A scriptura torna-se, assim, uma forma de infração informática, onde as informações e experiências são introduzidas no vasto campo da memória coletiva e individual.
O inventarium pode ser visto como uma descrição detalhada não apenas de bens materiais, mas dos momentos, emoções e pensamentos que constituem o patrimônio de uma vida. Essa “arrecadação processual” é um esforço contínuo de avaliação e posse dos momentos, que, tal como os bens, devem ser cuidadosamente descritos e compreendidos. O inventário se traduz na reflexão sobre a existência, na catalogação das experiências que moldam o ser, na tentativa de avaliar os passivos e ativos de uma vida vivida com intensidade e propósito.
O legatum traz consigo algo deixado para as gerações futuras. Trata-se da missão confiada ao ser para transmitir sabedoria, criatividade e reflexão àqueles que virão. O legatum é o que nos conecta ao passado e ao futuro, é a ponte entre o que foi e o que será ancorado na disposição de última vontade, na decisão consciente de deixar um pedaço de si para o mundo.
Assim, a filosofia e a arte se entrelaçam em uma dança complexa, onde o ser busca pertencer a si mesmo, expressar-se através da obra, inventariar suas experiências e deixar um legado para o futuro. Em cada gesto, em cada pensamento, em cada momento, reside a tentativa de capturar e entender a essência da existência, enquanto o Corpus Hermeticum nos lembra que essa busca é, ao mesmo tempo, uma jornada pessoal e universal, onde os seres se encontram e se fundem.
Abertura: 05/10, sábado, às 12h
Diálogo com o curador: 30/11, sábado, às 12h
Mais informações na Central de Atendimento:
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